Em 2020 eu fui aprovada para uma bolsa 100% pelo ProUni, foi um momento extremamente feliz para mim, apesar de todas a luta para conseguir os documentos, tive que ir várias vezes até a faculdade, com a minha mãe, ela estava recém-operada do joelho, mas no final deu tudo certo.
Eu ia fazer faculdade, realizar meu sonho de me tornar esteticista, iria estudar em uma faculdade que eu considerava ótima e que minhas amigas também estudavam, então teria companhia para ir e voltar para casa. Os primeiros dias foram incríveis, cheios de promessas, planos, informações; o campus era lindo, a secretaria estava sempre cheia, mas isso é detalhe. Tudo estava indo bem, apesar da minha condição de saúde, estava muito fraca, pois tinha acabado de sair de um internamento hospitalar, com crises muito fortes de enxaqueca, mas não queria perder os primeiros dias do início da realização de um sonho.
Foram 3 dias de iniciação das aulas, até que no final do dia 09/03/2020, minha professora nos informou que pela grande propagação do — na época, novo — Covid-19, passaríamos por um recesso de duas semanas, para que não houvesse maior propagação do vírus. Bem, foi o que todos pensamos, que seriam duas, no máximo 3 semanas sem aula, que poderíamos voltar às aulas, com os devidos cuidados, mas não foi o que aconteceu.
Como o brasileiro não sabe ver uns dias sem trabalho ou aulas que já quer festa, a população foi em massa para as praias e comércios, o vírus se espalhou e se instaurou uma pandemia que sobrecarregou o sistema público de saúde, quebrou comércios, deixou milhões desempregados, outros milhares faleceram, famílias foram desmontadas, destruídas, o país entrou em crise, uma crise que só que se agravaria com a tomada de um governo negacionista, anti-vacina, com ideias que beiram o fascismo e um governante de intelecto duvidoso e inconsequente.
Voltando para a bolha da minha faculdade, sei que estou em uma posição de privilégio em relação a muitos, pois passei algumas dificuldades na pandemia, mas não tantas quanto alguns, porém, também tenho o direito de contar meu relato.
Em três semanas, a universidade conseguiu aderir a um sistema para as aulas virtuais, visto que as aulas não tinham mais previsão para voltarem. Até funcionou no início, na verdade, funcionou por um bom tempo, mas o que sempre nos preocupou — nós, alunos da Estética — foi que, não estávamos tendo aulas práticas, em um curso 90% prático. Muitas promessas foram feitas, prometeram alterações nas grades curriculares, para podermos fazer o semestre de gestão (que não tem prática) no período de pandemia e não perder tantas aulas práticas, na esperança das aulas voltarem em 6 meses, mas não foi suficiente, pois a situação do país, não melhorava.
Porém, em 2021, algumas escolas particulares e públicas do sistema de edução de São Paulo, fizeram um sistema de rodízio de alunos, para a volta as aulas presenciais, mas a minha universidade, não aderiu, por ter campus muito cheio.
Em 2021 também, nossa coordenadora se mudou de estado, por questões pessoais e a estética ficou sem coordenador por um tempo, até que a universidade fez o pior que poderiam fazer, entregaram a coordenação para duas pessoas que já coordenavam a área de fisioterapia, e desde então, os alunos da estética tem passado por extrema situação de descaso, por parte dos mesmos, pois eles consideram a fisioterapia mais importante do que a estética, sendo que ambas as matérias têm sua importância, cada uma em sua área.
Desde que mudaram a coordenação, não nos posicionam, não nos auxiliam, só se manifestam quando fazemos estardalhaços e vamos até à secretária reclamar, onde também não temos apoio ou posicionamento, pois parece que a universidade é ótima, até você entrar nela e precisar da secretaria, porque a administração, coordenação e secretaria, quase não prestam o suporte necessário aos alunos e aos professores, que muitas das vezes não tem posicionamento também.
Com o tempo, as aulas foram ficando arrastadas, cansativas, eram passados PDF's cada dia mais extensos, com conteúdos massivos que requeriam maior atenção do que os foi dada, a urgência de alguns professores para cumprir o cronograma de aulas foi passando por cima de possíveis explicações mais detalhadas, o ensino, mesmo que passado, perdeu grande parte da qualidade.
Grande parte dos alunos trancou o curso, uma coisa que eu não pude fazer, devido a ter uma bolsa. Mas eu quis, muito.
A pandemia agravou muito o ensino, nesses anos, mas a falta de informação e comprometimento dos profissionais não tem a ver com pandemia, essa bagunça toda administrativa não tem a ver com vírus, mais um semestre iniciou e não tivemos a presença dos coordenadores do curso nos orientando em nada, só conversamos com os novos coordenadores uma vez, no segundo semestre de 2021, onde tivemos uma ''conversa'' com eles, que estava mais para um monólogo, onde apenas eles falaram, atropelaram quem tentou falar e não responderam quase nenhum questionamento feito.
Mandamos e-mails para os coordenadores e raramente obtemos respostas, e quando temos, demora, não respondem o que queremos saber e nunca sabem de nada. O descaso é quase que absoluto.
Nesse semestre de 2022, tivemos a situação onde os professores não sabiam quais eram as salas que realmente dariam aula, pois na grade deles apareciam duas salas para dar aula, ambas abertas em simultâneo, com alunos distintos, onde os professores unificaram as turmas e tentaram tirar algumas dúvidas e conversar sobre suas matérias. Mas, não começaram efetivamente os conteúdos, devido a ter muitas turmas misturadas.
Por seu um curso modular, existem pessoas do quinto semestre, que fazem a mesma grade do pessoal do primeiro, que entrou agora.
Mas uma coisa que não entendo, é a universidade aceitar alunos na última semana dos semestres, temos pessoas entrando nas turmas até na última semana de aula, onde a pessoa só faz as provas e já passa para o próximo semestre, não entra na minha cabeça que uma instituição que realmente se preocupe com o aprendizado do seu aluno, permita que ele entre em um curso na última semana do semestre, isso para mim, é ligar apenas para lucros e dinheiro, afinal, é mais uma pessoa que está ali para pagar a mensalidade, muitas vezes sem aprender nada.
Nesse ano de 2022 é meu ano de formatura, não tive nenhuma aula prática, só tivemos um posicionamento sobre, disseram que teremos 4 aulas práticas nesse semestre, 4 aulas práticas EM 6 MESES DE AULA, visto que meu curso são 2 anos e meio, e para mim, esses anos foram praticamente perdidos, pois, ninguém quer contratar alguém que não teve aulas práticas, nem para fazer estágios, já perdi muitas oportunidades por não ter tido práticas. Fiquei desempregada por 2 anos e não tive condições de fazer cursos complementares, por fora, atualmente trabalho CLT em uma área que não é a minha, em escala 6x1, estou começando a quitar minhas dívidas agora e cursos na área da estética são caros, nem todas que estão na faculdade, tem condições para fazer cursos por fora, de algo que deveriam aprender na mesma.
A situação está ruim para nós que vamos nos formar agora, pois, além de todo esse descaso da faculdade com as aulas práticas, teremos também que enfrentar as barreiras que se formaram e ainda se formarão, com esse período pandêmico — 2020 à 2021/22 — entre nós e nossos possíveis novos patrões.
